Esquadria de bambu do tipo camarão é destaque de casa criada por Marcio Kogan e Diana Radomysler em Ilhabela, SP

Por Nilbberth Silva Fotos Pedro Vannucchi



Fotos Pedro Vannucchi
Filtrar a luz e garantir a privacidade são apenas algumas das funções da esquadria de bambu desenhada pelo arquiteto Marcio Kogan, em parceria com Diana Radomysler, para a Casa de Ilhabela, em SP. Aberta, a janela do tipo camarão oferece vista plena da paisagem natural, que tem o oceano como protagonista. Fechada, garante a entrada parcial dos raios solares na construção, projetando no piso uma sombra quadriculada como a de um muxarabie.
E, como a peça da arquitetura árabe, a esquadria permite ver sem ser vista a partir do segundo pavimento, onde está instalada. Preenche de ponta a ponta as fachadas frontal e posterior, ocultando as robustas vigas de concreto superior e inferior, calculadas para vencer um vão de 10,5 m. Somente ficam aparentes as lâminas que se desprendem da estrutura para abrigar os trilhos embutidos por onde correm os painéis de bambu.

Além de atuar como brise soleil, o elemento de bambu se sobrepõe aos caixilhos da varanda linear, deixando a fachada visualmente mais limpa. Marcio queria que a casa lembrasse uma caixa mágica. "Em nenhum momento você consegue perceber onde a casa se abre. Você não sabe o que vem por trás - a construção parece ser enigmática e, no entanto, se abre", comenta o arquiteto. De fato, algumas vezes Kogan já ouviu vizinhos de suas obras reclamarem que as casas não têm janelas. Só depois as percebem, surpresos, escondidas dentro das "caixas".
Ao todo, são 40 painéis com 3,7 m de altura e de 0,8 m a 1 m de largura compostos por dois planos de réguas de bambu parafusados em uma estrutura de alumínio anodizado.

Os painéis foram executados por um serralheiro em parceria com a empresa especializada Bambu Carbono Zero. Seu desenvolvimento foi meticulosamente pensado durante quase um ano e exigiu o desenvolvimento de três protótipos. Márcio desejava painéis feitos com canas inteiras, mas o agrônomo Danilo Candia, da Carbono Zero, discordava: com a dilatação, a cana de bambu iria rachar-se em, no máximo, seis meses.
Danilo convenceu o arquiteto a usar réguas de bambu mossô, com 4 cm de largura e 1,5 cm de profundidade. O material foi então autoclavado para que sua durabilidade na fachada saltasse de dois para 15 anos, a mesma das madeiras de lei. Por ser uma gramínea, o bambu tem um ciclo de corte e regeneração que perdura por gerações, vantagem ecológica em relação à madeira. Existem bambuzais com 400 anos ainda produzindo. Além disso, atinge a maturidade em apenas sete anos, enquanto um Ipê, por exemplo, demora 50 anos até poder ser cortado.
Esta é a primeira vez que Marcio especifica bambu em um edifício. A ideia veio depois de andar por Ilhabela, cheia de casas que empregam o material em muretas, pergolados e outras estruturas. Para o arquiteto, o material reflete o espírito despojado do lugar e o estilo dos moradores da casa, ligados ao surfe e ao budismo.
"Parece que os perfis estão dançando na fachada", diz Diana. "O bambu é furta-cor, vivo, irregular - diferente de um pedaço de madeira", complementa. Já à noite, os painéis de bambu são levemente retroiluminados pela luz artificial que vem dos cômodos, transformando a casa em uma lanterna japonesa.

Fotos Pedro Vannucchi



FICHA TÉCNICA
ARQUITETURA
 Marcio Kogan e Diana RadomyslerCOLABORADOR Eduardo ChalabiRÉGUAS DE BAMBU Bambu Carbono ZeroESQUADRIAS Kiko Esquadrias

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