Coberturas verdes: conheça os critérios de especificação e os sistemas construtivos disponíveis no Brasil

Conheça os critérios de especificação e os sistemas construtivos disponíveis no Brasil
Por Juliana Nakamura





CtrlG + Federico Mesa
A seleção das espécies vegetais para a cobertura da escola infantil Pajarito la Aurora, em Medellín, Colômbia, foi feita para que o edifício, projetado pelos escritórios Ctrl G e Plan B, se fundisse à paisagem
Ao diminuir a reflexão e absorção de calor, as coberturas verdes atuam como isolantes térmicos em edificações. Absorvem gás carbônico e retêm a água pluvial, contribuindo para a redução do problema de drenagem da chuva em cidades, prevenindo alagamentos. Com tantas vantagens, os telhados vivos começam a ganhar mais notoriedade no Brasil, sobretudo pelo impacto positivo que a solução traz na obtenção de certificações ambientais como o Aqua e o Leed. Para se ter uma ideia, a presença de telhado verde na cobertura de um edifício soma 15 pontos em 45 necessários para a obtenção do selo verde pelo Green Building Council (GBC).
Nos últimos anos, o desenvolvimento de novos materiais como membranas impermeabilizantes, agentes inibidores de raízes e substratos de baixa densidade favoreceu a maior integração entre plantas vivas e as edificações. Surgiram os módulos pré-fabricados, quase sempre compostos por bandejas rígidas preenchidas com substratos e plantas pré-cultivadas, que podem ser depositadas diretamente sobre as coberturas, inclusive as inclinadas e as compostas por telhas convencionais.
Apesar dos avanços, ainda estamos atrás de países como o Canadá, Alemanha e Suíça, que dispõem de tecnologia mais avançada em relação aos acessórios de acabamento, irrigação, manutenção e integração da cobertura verde com outros sistemas como, por exemplo, o de painéis solares. "Fora isso, o custo ainda é uma barreira no Brasil", avalia o arquiteto Jörg Spangenberg, gerente de desenvolvimento de negócios para América Latina da Werner Sobek São Paulo.
Segundo Jörg, embora haja um movimento apontando para a maior adoção das coberturas verdes, os sistemas modulares ainda são muito subutilizados, especialmente quando se está fora das regiões Sul e Sudeste. "Não há produção em todas as regiões e o custo de frete acaba inviabilizando financeiramente alguns projetos", lamenta. Hoje, os sistemas com vegetação mais simples são fornecidos a partir de 70 reais/m².

Critérios de especificação

Os telhados verdes são classificados em intensivos e extensivos. Os primeiros são compostos por uma camada de solo profunda, normalmente de 15 cm a 21 cm no mínimo, permitindo a colocação de uma capa de vegetação com peso superior a 120 kg/m². A cobertura verde extensiva, por sua vez, utiliza uma camada fina de solo ou substrato. Relativamente leve, esse tipo de jardim está mais alinhado às demandas dos projetos atuais e costuma ser composto por plantas de menor porte, que exigem uma manutenção mínima.
"A escolha entre um tipo ou outro depende da capacidade da estrutura suportar cargas, especialmente em se tratando de construções existentes", explica Jörg. Um sistema extensivo com substrato de 5 cm a 15 cm de espessura pode implicar um aumento de carga no telhado de aproximadamente 70 kg/m2 a 170 kg/m². Já o jardim intensivo com solo base do substrato acima de 15 cm pode impor um peso adicional de 290 kg/m2 a 970 kg/m².
Sobretudo para telhados verdes extensivos, o vigor e a longevidade da vegetação dependem do sistema adotado. Mas é possível encontrar diferenças entre os modelos construtivos. A base de sistema, além de garantir uma boa drenagem, deve preferencialmente promover uma boa circulação de ar embaixo do jardim. Melhor ainda se permitir o armazenamento de água, o que garante maior eficiência no uso da chuva e irrigação. Onde há muita seca, recomenda-se a especificação de sistemas que integram reservatórios de água que podem ser, inclusive, de reúso. Para regiões onde chove bastante, é possível utilizar módulos mais leves.
Sistemas 100% modulares são mais fáceis de montar e desmontar, garantindo economia de mão de obra. No mercado brasileiro, há produtos com grande variação na capacidade de drenagem, armazenamento da água da chuva, capacidade de filtro, substratos de cultivo com diferentes teores de aeração, matéria orgânica, materiais inertes, e diferentes tipos de adubação. Uma dica na hora de especificar é observar se o sistema emprega produtos com baixa condutividade térmica, plásticos reciclados e de alta durabilidade e substratos de cultivo com adubação orgânica.
A definição da inclinação do jardim precisa ser cuidadosamente avaliada. Isso porque nos telhados planos é necessário assegurar drenagem eficiente, que evite o excesso de umidade. Já nas coberturas muito inclinadas pode ser necessário instalar travamentos para evitar que a terra e o substrato deslizem.
Também é importante garantir a estanqueidade para evitar infiltrações e o correto dimensionamento da drenagem, que deve ser calculada em função da área de contribuição e histórico de chuvas da região. Além disso, sempre que possível, deve ser dada preferência às plantas nativas da região, que favorecem a flora e a fauna local.
A frequência e tipo de manutenção vão variar de acordo com o sistema, qualidade dos materiais e seleção de plantas empregadas. "Como regra geral, recomendamos manutenções periódicas a cada seis meses para identificar a presença de plantas invasoras que possam danificar a estrutura de drenagem ou ocasionar sobrecargas localizadas na cobertura.


Tecnologias disponíveis no Brasil

Tecgarden, da Remaster
Instalado sobre laje impermeabilizada, o sistema permite reservar as águas das chuvas para irrigação do jardim, sem utilização de energia elétrica, bombas ou bicos irrigantes. Os pedestais possuem "pavios" que suportam as placas de piso elevado e criam um vão para o reservatório de água. Manta geotêxtil e produto antirraiz garantem o fluxo de água sem interrupções ou entupimentos. Se a chuva for intensa, um sistema de ladrões drena o excesso.



Revestimento vivo Premium, do Instituto Cidade Jardim
Composto por plantas adultas, cultivadas sem agrotóxicos, o sistema conta com módulos pré-fabricados nos quais todos os componentes estruturais necessários para o cultivo localizam-se em uma única peça com encaixe lateral. Isso inclui drenagem, filtro, reservatório de água, substrato leve e plantas. Com 40 cm x 50 cm x 8 cm, os módulos podem ser recortados in loco, o que permite desenhos curvos. O peso saturado com água varia entre 80 kg/m² e 150 kg/m².

Ecotelhado Laminar, da Ecotelhado
Ideal para regiões de seca e construções de lajes planas, o sistema dispõe de uma cisterna para águas pluviais implantada sob piso modular elevado que garante suprimento de até 200 l/m². O peso do conjunto saturado é de 250 kg/m², podendo variar de acordo com o tamanho da vegetação. Permite também a purificação de águas cinzas com posterior reutilização.


divulgação Instituto Cidade Jardim
Jardim instantâneo
A casa conta com dispositivos para diminuir o consumo de água, reduzir impactos ambientais e otimizar a eficiência energética. Por isso, nas lajes de cobertura foram instaladas placas de captação de energia solar, bem como um telhado verde de cerca de 80 m² composto por duas espécies suculentas (sedum acre evilladia batesi). Como a laje havia sido construída com vigas invertidas, os módulos do jardim foram aplicados sobre gradis metálicos e protegidos com tela plástica. Dessa forma foi possível nivelar a laje e manter o jardim em um único plano, acima das vigas invertidas. A vegetação foi fornecida em módulos pré-cultivados com plantas adultas.

Ficha técnicaNome da obra Casa Cobogó
local São Paulo, SP
Ano 2011
Arquitetura Marcio Kogan (autoria) e Carolina Catroviejo (coautora)
COBERTURA VERDE Instituto Cidade Jardim

Jens Lindhe
Plano inclinado 
A cobertura verde do complexo 8 House, em Copenhague, na Dinamarca, utilizou mais de 1.700 m² de musgos, e foi associado a outras ações, como a criação extensiva de pátios e varandas, para compor uma paisagem marcante. Com 11 andares e 476 unidades residenciais, o edifício de uso misto conta com apartamentos na parte superior, enquanto o programa comercial se desenrola na base do edifício. Por esse projeto, o BIG foi premiado em 2010 como o melhor telhado verde da Escandinávia pela Scandinavian Green Roof Association.

Ficha técnica
Nome da obra
 8 House
Local Copenhague, Dinamarca
Ano 2010
Arquitetura BIG - Bjarke Ingels Group
Colaboração Hopfner Partners, Moe & Brodsgaard, Klar
Cobertura verde Veg Tech

PWL Partnership Landscape Architects
Superdrenagem
Com certificação Leed Platinum, a cobertura do centro de exposições canadense se destaca pelo sistema de drenagem, que ajuda a evitar inundações. São 2,6 ha em planos inclinados e recortados cobertos por 25 espécies de vegetação nativa. O telhado foi dividido em setores de 800 m² abaixo dos quais sistemas de drenos e bacias de retenção ajudam a gerenciar as águas pluviais. Quando cheias, as bacias liberam a água excedente lentamente até a borda do telhado por um sistema de canaletas de alumínio de 30 cm de largura que formam um zigue-zague sobre a cobertura.

Ficha técnicaNome da obra Projeto de expansão do Vancouver Convention Centre
Local Vancouver, Canadá
Ano 2009/2010
Arquitetura PWL Partnership Landscape Architects
Cobertura verde American Hydrotech

divulgação Zanettini Arquitetura
Verde sobre metal
Primeiro empreendimento do Centro-Oeste a obter a certificação Leed, o edifício do TJDFT, projetado pelo arquiteto Siegbert Zanettini, tem como destaque terraços e coberturas verdes que ajudam a humanizar os ambientes de trabalho, além de criar um microclima mais confortável. Módulos com vegetação pré-cultivada resistente a secas (sedum acre) foram instalados sobre telhas de alumínio zipadas que, por sua vez, estão apoiadas em lajes steel deck. Além dos terraços, o gramado ao redor do edifício (618 m²) foi cultivado sobre apenas 5 cm de substrato em módulos especialmente desenhados para permitir boa aeração, armazenamento de água e leveza.
Ficha técnicaNome da obra Fórum do Meio Ambiente e da Fazenda Pública do Distrito Federal (TJDFT)Local Brasília, DFAno 2010/2011Arquitetura Siegbert Zanettini (autor) e Sandra Henriques (coautora)Construção CaengeProjeto de Sustentabilidade SustentaXTelha metálica zipada BemoCobertura verde Instituto Cidade Jardim

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