Construídas
em concreto armado ou estruturas metálicas, obras são cada vez mais comuns em
grandes cidades. Além dos desafios técnicos, intervenções exigem planejamento e
conhecimento de legislações municipais.
O acréscimo de varandas em edifícios
existentes é um fenômeno que vem ganhando importância nos últimos anos em cidades
grandes no Brasil. Motivados pela valorização dos imóveis localizados em
bairros consolidados ou simplesmente pelo conforto proporcionado pelo acréscimo
de área privativa, os moradores se unem para contratar arquitetos e engenheiros
capazes de lidar com os desafios técnicos desse tipo de intervenção.
O movimento tem se consolidado há dez
anos no Rio de Janeiro, principalmente depois de uma resolução da Secretaria
Municipal de Urbanismo que definiu, em 2005, as regras gerais para esse tipo de
obra. Antes disso, era preciso obter autorização da prefeitura em regime
especial. A cidade de Santos também modificou a legislação para viabilizar esse
tipo de construção em 2008.
Como cada cidade tem seu próprio
código de obras, uma das primeiras etapas do processo consiste em consultar a
legislação municipal, indispensável para analisar a sua viabilidade legal.
Projeto
Os principais sistemas construtivos adotados são o concreto armado moldado in
loco e as estruturas metálicas. As últimas vêm tendo maior penetração no
mercado devido à velocidade de execução, à leveza da estrutura e à consequente
redução de cargas nas fundações. Como são intervenções em edifícios
residenciais já ocupados, também conta ponto a favor desse sistema construtivo
a menor geração de resíduos, reduzindo os transtornos para os moradores e a
vizinhança. Há, no entanto, quem prefira dispensar a estrutura metálica e
adotar o concreto armado, como aconteceu no edifício Ronchamp, em Santos.
"A ênfase no conceito de durabilidade levou à escolha da solução em
concreto", afirma o engenheiro estrutural Clóvis dos Santos, responsável
pela obra. O engenheiro Ronoel Souto afirma que é possível obter um ganho
de durabilidade nas estruturas metálicas em áreas litorâneas com o emprego de
perfis de aço galvanizado.
Para evitar reforços nos edifícios
existentes, as novas varandas são projetadas como uma estrutura à parte, com
fundações e pilares próprios. "Usamos o prédio existente apenas para
encostar a varanda, evitando a sua torção", explica Ronoel Souto. A
fundação mais adotada nesse tipo de intervenção é a estaca raiz, já que a
proximidade da estrutura existente não admite vibrações mais intensas.
O planejamento da obra deve envolver ainda a logística de entrega dos materiais
e de movimentação vertical de materiais e trabalhadores. No caso das estruturas
metálicas, explica Ronoel Souto, o prazo de fabricação das peças dura cerca de
50 dias. Como geralmente não há espaço na obra para estocar os elementos
estruturais, eles são armazenados em um depósito e entregues na obra conforme a
demanda.
Estrutura maciça
O concreto armado
moldado in loco foi o sistema construtivo adotado na construção das 13 novas
varandas do edifício Ronchamp, na orla de Santos (SP), em 2011. Segundo o
engenheiro Clóvis dos Santos, responsável pela construção do prédio e autor da
intervenção ao lado do casal de arquitetos Celina e Daniel Proença, foram
tomados diversos cuidados para evitar o acréscimo de carga na edificação,
evitando reforços na estrutura e nas fundações já existentes. Por isso,
detalha ele, projetaram-se novas fundações em sapatas, vigas e pilares
estruturais, que juntos dão estabilidade às lajes externas, que medem 12,5 m x
2,5 m. A ligação entre as estruturas foi feita com parafusos de aço inox
chumbados e placas verticais de neoprene para permitir apoios deslocáveis. O
valor de cargas considerado no dimensionamento foi de 300 kgf/m². Em um
estágio final, aplicaram-se peitoril de vidro e, em toda a fachada, novos
revestimentos (cerâmico com detalhes em granito).
As instalações elétricas e hidráulicas, assim como os ramais de águas
residuais, normalmente se conectam com as varandas por prumadas localizadas próximas
ao pilar. Outra etapa importante é a da execução da impermeabilização,
normalmente feita com mantas asfálticas, com atenção especial na região da
junta. Em seguida, são executados os acabamentos e a instalação dos
guarda-corpos.
Na etapa de instalação das
esquadrias, quando a intervenção começa a ganhar forma, é bastante comum haver
uma revisão dos serviços contratados. "Há obras que inicialmente preveem a
simples substituição das esquadrias da sala, que darão lugar a portas novas. No
decorrer da construção, o condomínio resolve aproveitar a ocasião e trocar
todas as esquadrias da fachada, inclusive as janelas dos quartos", explica
o arquiteto Hugo Hamann, do escritório carioca HCH Arquitetura e Planejamento,
um dos pioneiros nesse tipo de intervenção. Muitos moradores também pedem a
instalação de churrasqueiras no local, o que estende um pouco mais a duração
dos trabalhos.
Assunto polêmico nos condomínios, o envidraçamento perimetral geralmente
não é previsto no escopo do trabalho. Isso porque algumas legislações
municipais são rigorosas em relação ao assunto, considerando a varanda
"área computável" se o espaço for fechado. Ainda assim, após a
entrega das obras, muitos moradores optam por assumir o risco e contratar à
parte empresas de instalação de vidros nos apartamentos.
Raio X da obra
Fundações
A execução das fundações da nova estrutura dura cerca de um mês.
Muitas vezes, elas ficam muito próximas das sapatas periféricas do edifício
existente, o que exige soluções com pouca vibração.
Estrutura
Podem ser metálicas ou em concreto armado, sempre independentes da estrutura do
prédio principal para evitar esforços cortantes decorrentes da movimentação
diferencial. As lajes podem ser moldadas in loco, pré-moldadas ou em steel
deck. As juntas construtivas são regiões muito sensíveis a infiltrações, por
isso devem ser adequadamente impermeabilizadas, de preferência com manta
asfáltica.
Acesso
dos trabalhadores
O trânsito no interior dos apartamentos será mínimo -
geralmente, ocorre no momento de interligação das conexões elétrica e
hidráulicas de cada apartamento. Para evitar transtornos aos moradores, é
preciso prever o acesso externo por escada ou elevador. Durante a execução da
obra, o pico de operários gira em torno de dez a 15 pessoas, na fase de acabamento.
Transporte
vertical de materiais
Para o transporte vertical de materiais e componentes de
sistemas construtivos, pode ser usado um caminhão munck, quando o terreno
permitir, ou uma minigrua instalada na cobertura sob supervisão de um
projetista estrutural.
Demolição
Com a nova estrutura pronta, é preciso quebrar a fachada para conectar os
apartamentos à varanda e instalar as portas balcão. Nesse momento, é preciso
instalar divisórias para isolar a área em obras do restante da unidade.
Instalações
Com a estrutura erguida, é feita a conexão dos pontos de luz,
água e esgoto (ralos) da nova varanda, cujas prumadas se localizam, em geral,
próximas aos novos pilares. A instalação de churrasqueiras e chaminés, a
critério de cada morador, exige mais um ou dois meses de obra.
Acabamento
A troca das esquadrias e a execução dos acabamentos internos e de fachada levam
mais seis a oito meses, dependendo da complexidade do projeto. O serviço pode
ser agilizado com a fixação mecânica das rochas ornamentais diretamente sobre a
fachada antiga com insertos metálicos.
Juliana Tourrucôo e Renato
Faria, da revista Téchne